02/09/2011

Tenho filhos... Mas também sou filha



Minha experiência materna, mesmo que ainda no começo, tem me ensinado muito sobre minha relação com meu Pai Celestial. Muitas vezes me vejo corrigindo minha cria exatamente pelo que eu sei que preciso de correção...
 Obediência...
Entristeço-me tanto quando sou desafiada pela desobediência dele, e olha que sou só mãe. Imagino quanto tenho entristecido meu Pai, que é Deus sobre todos e tudo...

Meu filho diz “mamãe, eu te amo muito!” todos os dias, nas horas em que menos espero ouvir uma declaração dessas: Sempre que estou limpando seu bumbum, após o numero dois. Depois que lhe dou um bom banho de bucha e meleco-o todinho de hidratante. Quando corto suas unhas. Quando lhe dou banana picada com leite em pó e nescau... Quando lhe coloco na cama, já quase dormindo por cima dele... E ele repete a declaração várias vezes, incisivamente, quando consigo cantarolar uma (ou meia) música de ninar antes de desmaiar de sono (primeiro que ele!).
É claro que eu sei que ele me ama, e até confesso que já espero tal declaração após cada um desses atos.  Mas, como ele não sabe disso, profere as palavras que amolecem meu coração como se nunca as tivesse dito! E eu não resisto... Sempre respondo “bate pronto”: - Também te amo, filho!

A declaração torna-se uma incógnita pra ele quando o corrijo por alguma traquinagem.  Ele não mais diz que me ama, ele simplesmente pergunta, com a voz mais melodramática que é capaz de fazer: “Mamãe, você ainda gosta de mim?!”
Meu coração é dilacerado por milhões de questionamentos: traumatizei meu filho?  Feri-o tanto que ele acha que não tem mais importância pra mim? Perdi meu bebê pra minha mãe (que é craque em corrigir gente miúda com tanto amor que nem dói)? Enquanto termino de engolir seco, sob um lindo e lacrimejante olhar verde, penso em tomá-lo em meus braços e prometer-lhe que nunca, nunca, nunca mais vou brigar com ele. Desde que ele nunca, nunca, nunca mais me desobedeça...
Como tal promessa é inviável para ambos os lados, eu solto essa: "Não, a mamãe não gosta mais de você!”

Silêncio.

Daí pego meu homenzinho no colo, olho bem nos olhos dele e faço-o entender (mesmo que seja por cinco minutos): “Caio, a mãe não gosta mais de você, porque gostar é só um tiquinho. A mãe te ama e nunca vai deixar de te amar. Nunca vou deixar de ser sua mãe.”
Um longo abraço e dois sorrisos molhados se encontram, prontos pra zerar a questão. Até que a próxima questão se levante. Muitas vezes isso acontece em menos de meia hora... E o ciclo nunca fecha: Eu te amo. Ainda gosta de mim? Não. Eu te amo. Sempre.
Creio que minha relação com Papai do Céu não tem sido diferente em nenhum aspecto. Quando as coisas vão bem, quando recebo o que tanto desejo, ou o que é tão necessário e vital até me lembro de dizer obrigada, de dizer te amo, de balbuciar rápidas palavras de gratidão. Rapidamente. Pois tenho que curtir o prêmio ganho sem esforço algum. Mas...
Mas quando faço bobagem, aí fico logo me escondendo, autocomiseração, morrendo de medo de não ser mais amada do mesmo jeito. Evinha...
Gostaria de conseguir um intervalo maior entre uma questão e outra, já que não consigo mesmo parar de desobedecer... Sei que Meu Pai se entristece com minha desobediência, assim como eu fico arrasada quando sou desobedecida por meu  filho...

Quando tomo coragem, emprestada não se de onde, vou aos pés do meu Senhor. Lá a cena materna se repete: “Senhor, ainda gosta de mim? Ainda conto com tua misericórdia? Ainda posso chamar-te de papai?”

Silêncio.

Às vezes esse calar dura dias...
 Mas, na maioria das vezes a resposta é imediata e me devolve a alegria de viver e a certeza de que sou amada incondicionalmente. Só Ele me ama apesar de tudo o que sou, faço ou deixo de fazer.
Papai do Céu me diz, incisivamente, “olhando” bem dentro do meu coração:
 - Com AMOR ETERNO te amei, querida filha... Nada te separará do MEU AMOR!

Eu, assim como meu filhote, entendo e sossego e agradeço – mesmo que por cinco minutos. Até que a próxima questão se levante...

A lição que tomo pra mim é simples:
Meu Pai sabe de quê sou feita, sabe que sou pó. Ele não espera perfeição de mim. Espera que eu aprenda enquanto ELE, repetidamente me diz as mesmas coisas todos os dias.
Eu devo lembrar que meu filho é feito da mesma matéria que eu, imperfeito. Que a teimosia dele tem a quem “puxar” (eu). Preciso deixar que a paciência que meu Pai tem comigo transborde em meu viver, transformando meu cotidiano materno e me fazendo cada dia mais tolerante e amorosa, pois recebo essas dádivas da Fonte Perfeita.
Glads Abigail Moreira